quinta-feira, 25 de abril de 2013
"Senhor, quanta fome no mundo!"
comi demais,
comi para fazer como faz toda gente,
porque me haviam convidado,
porque estava em sociedade e era difícil agir doutro jeito.
E cada prato,
cada bocado,
e cada colherada custava a passar.
Comi demais, Senhor.
Enquanto, no mesmo momento, em minha cidade,
mais de 1.500 pessoas – tenho nas mãos uma lata vazia,
faziam fila para a sopa popular.
Enquanto aquela mulher, na mansarda onde mora,
comia o que apanhava de manhã nas latas do lixo.
Enquanto esses garotos, em seus cortiços repartiam
entre si os restos frios da magra refeição dos velhos do Asilo.
Enquanto dez, cinquenta, cem, mil desgraçados, no
mesmo instante, pelo mundo afora, torciam-se de dor,
morriam de fome diante dos seus, desesperados.
Senhor, é atroz, pois eu bem sei,
e comigo muitos homens sabem.
Sabem que não só alguns infelizes sofrem fome, mas
centenas, à porta de suas casas.
Sabem que não só uma centena de infelizes, mas
milhares sofrem fome em seus próprios países.
Sabem que não somente milhares
mas milhões sofrem de fome, pelo mundo afora.
Os homens traçaram o mapa da fome;
aqui estão as zonas da morte, que se impõem, terríveis.
Os algarismos brandem sua verdade implacável.
Para mais de 800 milhões de seres humanos, o mínimo
mensal dos países ricos representa o máximo anual.
Um terço da humanidade está subalimentado.
Morrem vários milhões de homens à míngua, no decorrer
De um só fome na Índia.
Os hindus vivem em média 26 anos apenas.
Senhor, vês este mapa, lês estes algarismos,
não como o estatístico, sereno, em seu escritório,
mas como um pai de família numerosa,
que se debruça sobre a fronte de cada um de seus filhos.
Senhor, vês este mapa, lês estes algarismos desde sempre;
Tu os lias, Tu os vias, quando contavas para mim a
história do rico à mesa e do Lázaro faminto.
Tu os vias, Tu os lias, quando narravas para mim
o Juízo Final.
“…Eu tive fome…
É terrível, Senhor!
És Tu que fazes fila para a sopa popular,
És Tu que comes o que sobra nas latas de lixo,
És Tu que agonizas torturado pela fome,
És Tu que morres a um canto, sozinho, com 26 anos,
enquanto, no outro ângulo do grande salão do mundo,
ao lado de alguns membros da nossa família – eu como,
sem ter fome, o que seria preciso para Te salvar.
“… Tenho fome…”
Poderás dizer-me isso sempre, Senhor, se eu deixar um
só instante de me dar.
Jamais acabarei de servir a sopa a meus irmãos – são
tão numerosos.
Sempre haverá alguns que não receberam sua porção;
jamais acabarei de lutar para ter sopa para todos os
meus irmãos.
Não é fácil, Senhor, dar de comer ao mundo.
Prefiro fazer minha oração, regularmente, limpamente,
prefiro jejuar nas sextas-feiras,
prefiro visitar meu pobre,
prefiro dar dinheiro às quermesses e orfanatos,
mas tudo isto ainda não basta,
tudo isto é nada,
se um dia puderes me dizer: “Estou com fome”.
Senhor, eu já não sinto fome;
Senhor, eu já nem quero mais ter fome;
Senhor, eu só quero comer o que me for preciso para
viver e Te servir e lutar por meus irmãos.
Pois tens fome, Senhor,
Pois morres de fome, Tu, enquanto estou saciado.
(Michel Quoist)
“Porque tive fome e Me deste de comer” (Mateus 25:35)
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