Era meu aniversário naquela manhã de fevereiro, e eu me sentia arrasada quando apanhei a pasta e saí para tomar minha refeição matinal em companhia de alguém com quem tinha negócios. De modo geral, a vida tinha sido generosa para comigo. Minha agenciazinha de publicidade prosperava. Marido e filhos iam bem. Apesar disso, parecia estar faltando alguma coisa… algo que nem nome tinha. Sentia apenas um ligeiro vazio íntimo.
No restaurante, sentei-me com Don Campbell, homem de seus 60 anos. Ele era um próspero consultor de marketing, dotado de extraordinária empatia com as pessoas. Seu jeito calmo e sereno sempre me havia impressionado.
Enquanto comíamos, discutimos um esquema de publicidade. Depois, já com os negócios resolvidos, referi-me ao meu aniversário, confessando-lhe também a minha permanente sensação de vazio.
- Quer preencher esse vazio? – indagou Don.
- Claro!
- Comece o seu dia com uma hora de oração.
- Eu não tenho tempo para isso – respondi, ofegante.
- Foi exatamente o que eu disse há 20 anos. Era presidente de uma agência em Chicago e corria por toda parte só para sobreviver. Acreditava que devia orar todos os dias, mas não encontrava tempo para isso. Tinha a impressão degradante de estar perdido o controle de minha vida. Um amigo me disse então que eu interpretava as coisas às avessas. “Você está querendo encaixar Deus na sua vida”, disse ele. “Cinco minutos aqui, dez minutos acolá. O que você precisa é adaptar sua vida em torno de Deus, e isso se faz assumindo um compromisso. Uma hora por dia é uma obrigação. O objetivo é tomar um espaço de tempo que represente alguma coisa para você… e depois oferecer esse período a Deus”.
Os olhos de Don brilhavam.
- Achei aquilo uma birutice do meu amigo – continuou Don. – Para arranjar uma hora a mais e dedica-la a Deus, teria de me levantar uma hora antes. Dormiria menos e prejudicaria minha saúde.
O brilho de seu olhar transformou-se num largo sorriso. – Mas o que fato é que há 20 anos não adoeço.
Vinte anos!
Saí do restaurante mentalmente confusa. Uma hora de orações! Absurdo! Apesar disso, não conseguia tirar da cabeça aquela ideia de Don.
Sem dizer nada aos nossos três filhos nem a Bill, meu marido, acertei o despertador para as 5 horas. Moramos no Centro-Oeste dos Estados Unidos, onde, àquela hora, no mês de fevereiro, faz muito frio e ainda é escuro. Com esforço, me levantei. A casa, escura e melancólica, me envolveu. Fui na ponta dos pés até à sala, sem dar atenção a Burt, nosso cão, e instalei-me no sofá. Era esquisito ficar a sós com Deus. Sem rituais de igreja. Só eu… e Ele. Durante uma hora. Olhei para o meu relógio e pigarreei: – Muito bem, Deus, aqui estou eu… e agora?
Gostaria de poder relatar que Deus me respondeu de imediato. Mas só houve silêncio. Vi os primeiros toques do sol nascente; tentei orar, mas, em vez de fazê-lo, pensei no filho Andy e na briga que tivéramos na véspera. Lembrei-me de um cliente cuja firma atravessava uma fase difícil. Ocorreram-me coisas irrelevantes.
Aos poucos, meus pensamentos errantes se desaceleraram. Minha respiração também se acalmou, até que senti uma quietude dentro de mim. Comecei a perceber pequenos ruídos – o zumbido do refrigerador, a cauda de Burt batendo no assoalho, um galho de árvore congelado roçando numa janela. Senti então a presença aconchegante do amor. Não sei como descrevê-lo de outra forma. O ar e o próprio lugar onde estava sentada, pareceram mudar, da mesma forma que se modifica o ambiente da casa quando chega uma pessoa amada.
Eu estivera sentada 50 minutos, mas só então comecei de fato a orar. Descobri que não o fazia com minhas palavras habituais, nem com a minha lista de pedidos.
Sempre me havia dito que Deus me amava. Naquela manhã de fevereiro, senti esse amor; e a imensidão do sentimento era tão irresistível que permaneci em silêncio, agradecendo a Ele durante quase 15 minutos. Depois, o despertador tocou, e Burt deu um latido. Durante todo esse dia, senti-me acalentada pela lembrança daquele amor.
Na manhã seguinte, a casa me pareceu ainda mais escura e fria do que antes. Apesar disso, tremendo, me levantei. Mais um dia, pensei.
No dia imediato, outro dia mais.
Passaram seis anos assim.
Nesse ínterim, tem havido muitas crises: problemas com um dos nossos adolescentes, turbulências conjugais, um grande prejuízo financeiro. Contudo, em meio a todas elas, tenho encontrado tranquilidade de espírito naquela hora que passo com Deus, que me dá tempo para colocar as coisas em perspectiva, para encontra-Lo em todas as circunstâncias. Uma vez que O encontro, parece não existir problema que não possa ser resolvido.
Há manhãs em que me sinto logo dominada pelo milagre e pela glória de Deus; há outras em que não sinto coisa alguma. É nesses momentos que me lembro de mais uma coisa que Don Campbell disse: “Haverá ocasiões em que o seu espírito simplesmente se recusará a entrar no santuário de Deus. Ainda assim, você está presente, e Deus dá valor à luta que você enfrentou para ficar ali. O que importa é o comprometimento”.
Graças a esse compromisso, minha vida se transformou. Começar o dia com uma hora de oração veio preencher aquele vazio que havia em mim. (Barbara Bartoci, texto extraído do livro “A Hora Tranquila”, de Tercio Sarli, CPB).